Nuno Nepomuceno nasceu em 1978, nas Caldas da Rainha.
É licenciado em Matemática pela Universidade do Algarve e reside na região Oeste.
Em 2012, venceu o Prémio Literário Note! com O Espião Português, o seu primeiro romance.
Para mais informações, por favor consultar www.nunonepomuceno.com.
Estivemos à conversa com Nuno Nepomuceno de uma simpatia extrema. Foi um prazer ter participado nesta conversa.
1) Nuno, como
começou a sua paixão pelos livros?
Não consigo
especificar uma data em concreto. Trata-se de um hábito que me foi incutido
pela minha mãe desde bastante pequeno e que ainda preservo. Para mim, ler é
compreender, aceder a novos mundos e imaginários. Recordo-me da altura em que
comecei a escola primária e aprendi a fazê-lo. Num domingo à tarde, depois de
já ter alguma prática, decidi que ia ver um filme. Estava muito empolgado
porque finalmente iria perceber aquilo que todos viam. Acabei consideravelmente
frustrado, já que não conseguia acompanhar a velocidade a que passavam as
legendas, mas não desisti. A leitura regular acabou por vir por acréscimo. A
minha mãe ensinou-me a ir à biblioteca e a partir daí tudo se tornou mais
fácil. Aliás, durante a adolescência, era capaz de ler um livro por semana. Sou
recatado, ou sossegado, como é costume dizer-se, e a leitura é uma excelente
distracção, uma forma de não me sentir só.
2) Quando e como
surgiu o gosto pela escrita?
Acabou por vir
do gosto pela leitura. À medida que o fui fazendo com maior regularidade,
comecei a sentir curiosidade pelo outro lado, isto é, como seria ter o poder de
criar personagens e histórias a partir do zero, de mexer com as emoções e
imaginação das pessoas. É essencialmente isso que procuro hoje em dia.
Independentemente do muito ou pouco sucesso que as minhas obras venham a ter,
acho que é algo que não abandonarei, pois é o que me motiva a continuar.
3) Faz da
escrita profissão?
Não, tenho outra
profissão, tal como grande parte dos autores portugueses. Apesar de ser licenciado
em Matemática, trabalho como controlador de tráfego aéreo há cerca de onze
anos. Passei pela Torre de Controlo do Aeroporto João Paulo II, na ilha de São
Miguel, e actualmente estou na de Lisboa, onde desempenho funções operacionais
e de supervisão. Este é o meu principal emprego, já que é daí que retiro a
maioria dos meus rendimentos, o que não quer dizer que escreva apenas como
actividade secundária. Tenho somente um livro publicado e, por isso, sou um
principiante, mas não me considero um amador. É complicado conciliar duas
profissões, estas em particular, já que são ambas muito exigentes, mas é um
esforço que estou disposto a fazer.
4) De onde
surgem os seus personagens, imaginação ou realidade?
5) Quantos
livros já escreveu, qual o seu personagem favorito?
Já escrevi O Espião Português, editado em 2012 pela
ASA e reeditado em 2015, através da Topbooks, com a qual assinei um contrato de
exclusividade no início do ano. Também já terminei a continuação deste livro, o
segundo volume da trilogia Freelancer,
e que será publicado em Abril. Sou ainda o autor de dois contos: «Redenção»,
que escrevi a convite do blogue Crónicas de Uma Leitora para o especial de
Natal de 2014; e «A Cidade», que será editado em breve pela Livros de Ontem na
colectânea Desassossego da Liberdade,
coordenada por Sofia Teixeira. Encontro-me a trabalhar na conclusão da série
iniciada com O Espião Português, que
espero apresentar nos primeiros meses de 2016. E sim, o André, o protagonista
dos três volumes, é a minha personagem preferida.
Não, isso nunca
me aconteceu. Mas acho que iria fugir para bem longe. Sou algo tímido e mesmo
das vezes que fui reconhecido por alguém senti-me bastante atrapalhado. Não
escrevo à procura de fama ou prestígio. Obviamente que, a acontecer, serão
sentimentos agradáveis. Faço-o porque gosto, porque sinto que tenho a minha
própria voz, algo a acrescentar.
No início, é um
pouco estranho. Por um lado, temos vontade de ir ter com as outras pessoas e
contar-lhes que aquele livro foi escrito por nós. É o fruto de imenso trabalho
e transporta com ele muitos sonhos e carinho. Por outro, há um sentimento de
exposição e responsabilidade bastante acentuados. O nosso menino, que tratámos
com tanto amor enquanto foi apenas um ficheiro no nosso computador, ganhou asas
e deixou-nos. Agora, é de todos. Sim, é muito bom. Mas também estamos a dar
algo de nós.
Regra geral,
não. O Espião Português foi escrito
em segredo. Nunca ninguém soube. Só depois de ter ganho o prémio e ter a
certeza de que o livro iria ser publicado, é que expliquei à minha família o
que tinha feito. E mesmo assim, só cerca de quatro dias antes do lançamento e
respectiva divulgação, é que fiz o mesmo com os meus amigos. Tenho a sorte de
estar rodeado de pessoas que gostam verdadeiramente de mim e que não se
sentiram ofendidas ou magoadas por lhes ter escondido algo tão importante.
Tenha ele muito ou pouco de real, escrever um livro, sobretudo o nosso
primeiro, é sempre uma experiência altamente pessoal. Temos receio de não o
sermos capazes de fazer, da rejeição das editoras, do que quem o vai ler, irá
pensar de nós. Foi por causa disto que mantive o projecto só para mim. Agora é
um pouco diferente. A escrita é uma dimensão da minha vida que veio para ficar
e a minha família e amigos já o sabem e tentam apoiar-me o melhor que
conseguem, embora continue a ter dificuldades em mostrar o que vou fazendo até
estar editado. Apenas um excerto ou outro, em busca de uma opinião, mas somente
isso.
9) Qual o seu
autor e livro favorito?
O livro que mais
gostei de ler foi Os Pilares da Terra,
do Ken Follett. Acho que está maravilhosamente bem construído. Quanto aos
autores, tenho vários, desde Daniel Silva, o próprio Ken Follett, Nicci French,
ou Gillian Flynn e Robert Galbraith, o pseudónimo de J K Rowling, ambos duas
descobertas recentes.
10) Segue o
género literário do seu autor preferido, ou adopta outro?
Sim e não. O
autor cujos livros em maior quantidade tenho em casa, é Daniel Silva. Possuo
todos os volumes da série dedicada ao Gabriel Allon. O Espião Português e os dois restantes tomos da trilogia que estão
para sair, pertencem obviamente ao mesmo género, mas não me considero uma
cópia, uma adaptação, ou um seguidor deste autor. É alguém que admiro e cujo
trabalho aprecio, sobretudo porque se insere no meu género favorito. Embora
considere que tenho o meu próprio estilo, que faço algo que é muito meu, para
além de ser capaz de diversificar. Por exemplo, «Redenção», o conto de Natal
que escrevi, não é de espionagem. Tem alguns elementos policiais, estando mais
próximo do género do thriller
psicológico, além de abordar questões como fé e culpa. E há ainda «A Cidade».
Foi inspirado no Livro do Desassossego,
de Fernando Pessoa, e lida com o tema da liberdade e das consequências das
escolhas que fazemos, estando redigido num registo completamente diferente.
Estou algo ansioso para que todos o possam ler.
11) Quando
termina de escrever um livro, qual o sentimento?
Depende um
pouco. No caso de O Espião Português
senti-me essencialmente contente. Foi um projecto em que trabalhei durante oito
anos e vê-lo finalmente terminado foi muito gratificante. Fiquei feliz por ter
conseguido acabar o livro, por ter colocado em papel tudo o que idealizara. Com
o segundo volume, a sensação foi algo diferente. Acabei-o há cerca de um ano e
meio, no início do Outono de 2013, e deixei-me envolver de tal forma, que
acabei a chorar. Não posso dizer porquê, mas este volume tem um final muito
emotivo. Pode cair-me um pouco mal, mas confesso estar muito orgulhoso do que
fiz.
12) Qual a
sensação de ter ganho o Prémio Literário Note em 2012?
Foi um pouco
estranho. De uma certa forma, tinha esperanças de ganhar. Já disse que gosto
imenso de ler e comparava o meu livro com os que comprava e não achava que
fosse inferior. Contudo, as várias recusas que já tinha ouvido, fizeram-me
moderar as expectativas. Soube ter ganho o prémio no início de Agosto de 2012,
com o lançamento previsto para Novembro daquele ano, e sim, fiquei orgulhoso,
mas rapidamente comecei a ter consciência da responsabilidade. O Espião Português foi uma aposta de um
grande grupo comercial e isso não pode nem deve ser encarado de ânimo leve por
mim.
13) Como vê o
momento actual da Literatura em Portugal?
Mais ou menos
satisfatório. Acho que têm surgido alguns bons novos autores nos últimos anos,
sobretudo em géneros que têm pouca tradição por cá e que normalmente
importamos, como é o caso dos policiais, ou da fantasia. E o mais engraçado é
que os leitores têm correspondido e alguns desses escritores são já bastante
populares. O problema maior continua a ser as editoras, que estão demasiado
fechadas num mundo muito próprio e ao qual é difícil aceder. Sinto que há
demasiados jovens que acabam por desistir e nunca conseguem publicar o que
escrevem por causa dessas barreiras e preconceitos.
14) Como vê a
divulgação dos bloggers literários?
Acho que fazem
um bom trabalho. Há variedade de géneros e gostos, o que tem dado os seus
frutos, apesar de não disporem de qualquer espécie de apoio além dos livros que
recebem das editoras com que vão formando parcerias. Talvez falte só um pouco
mais de ousadia, de apresentarem novos conteúdos, embora reconheça que deve ser
difícil, porque é algo que exige tempo e dedicação, e não dá receitas ao
blogger.
15) Quer deixar
alguma mensagem especial aos seguidores do blog Marcas de Leitura?
Espero que
continuem a seguir o Marcas e que lhe dêem o carinho e atenção que a Manuela
merece. É um espaço extremamente diversificado, que aposta imenso na
divulgação, e que, por isso, precisa de continuar a crescer, de ser devidamente
apoiado. E já agora, que continuem a ler, de preferência a trilogia Freelancer. Não se vão arrepender.
Muito obrigado,
Nuno.
Obrigada Nuno pelas simpáticas e gentis palavras com que nos brindou e pelo tempo que nos dispensou.
Desejo-lhe os maiores sucessos!
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