sábado, 9 de maio de 2015

À conversa com Rui Conceição Silva autor de Quando o Sol Brilha



Rui Conceição Silva nasceu em 1963 em Figueiró dos Vinhos, onde reside. É casado e tem dois filhos. Apesar de ter vivido em Coimbra, Tavira e Lisboa, é na sua terra que se sente completo, convivendo com os afetos e com os rostos de sempre.
Este seu primeiro romance é fruto da necessidade de falar da saudade triste da perda de alguém que se ama, mas também da reconciliação necessária com a vida e com toda a sua beleza.


O Marcas de Leitura esteve à conversa com Rui Conceição Silva autor de Quando o Sol Brilha.
Obrigada pelas simpáticas e gentis palavras com que nos brindou e pelo tempo que nos dispensou.


1) Fale-nos um pouco sobre si?

Tenho 52 anos, sou casado com a Aldara e tenho dois filhos extraordinários, a Diana, com 25 anos, e o Pedro, com 17. Moro em Figueiró dos Vinhos, onde nasci e cresci. É a terra dos meus pais, dos meus avós e dos meus bisavós, o lugar onde tenho as minhas raízes. Sou bancário de profissão e a minha esposa tem uma Papelaria/Livraria. Infelizmente, não tive a oportunidade de tirar um curso superior, pois os tempos eram difíceis para toda a minha família. É uma das coisas que mais lamento, mas a vida manda mais em nós do que nós nela. Apesar disso, sempre procurei colher o máximo de conhecimento possível. Como um autodidacta, tentando enganar o destino. Acho que me posso definir como um homem simples que procura ultrapassar os limites da sua vida. 

2) Quando começou sua paixão pelos livros e o gosto pela escrita?

Desde pequeno que gosto de ler. Eu, o meu irmão Tózé e o nosso amigo de infância, o Zé Batista, éramos grandes fãs da Biblioteca Municipal, de onde trazíamos livros aos montes. Nesse tempo, a televisão só tinha um canal, a RTP, pelo que tínhamos uma ânsia incrível de procurar saber mundo através dos livros. De todo o tipo de livros, desde o Astérix ao Sandokan, até enciclopédias e livros de poesia. E eu admirava todos os autores que escreviam livros, eram os meus heróis secretos. No entanto, apenas comecei a escrever livros há sete anos atrás. Até aí, escrevia apenas letras para canções e pequenos contos e poemas, que tenho guardados em gavetas. 

3) Qual o seu personagem favorito e de onde surgem, imaginação ou realidade?

Do meu livro, gosto do Felismino Jardins, o velhote que, após a morte da mulher, passou a viver num mundo próprio, no qual imaginava que via cavalos, depois de perder a noção da realidade. Lembra-me um pouco o meu avô materno, que sempre teve pequenos sonhos - que nunca concretizou -, mas que, apesar das contrariedades da vida, manteve sempre o sorriso e a esperança de dias melhores. Porém, e infelizmente, o meu avô nunca saiu da sua pobreza, morrendo anonimamente, numa casa velha e triste. Talvez eu tenha aprendido com ele que a vida pode ser uma madrasta injusta, que ignora muitos dos nossos sonhos. Outra personagem que me diz muito, é o Edmundo, o narrador do livro. Como diz, e bem, a Sofia Teixeira, no seu Blogue BranMorrighan, este livro só foi possível porque vivi uma dor enorme: a de ter perdido o meu amado irmão TóZé, que se suicidou num dia injusto e frio. Foi a maior tragédia da minha vida, que me deixou à beira do abismo. Tínhamos apenas catorze meses de diferença e éramos amigos imaculados, irmãos de toda uma vida. Creio que coloquei essa tristeza no Edmundo, que também perde uma parte do seu mundo, a filha que tanto amava. Por tudo isso, posso dizer que a realidade e a imaginação andam de mãos dadas no meu livro. 
      
4) Quando o Sol Brilha é o seu primeiro romance, como se sentiu ao ser agenciado por uma grande Editora como a Marcador?

A primeira reacção foi a de uma grande alegria. Não é fácil uma Editora tão importante interessar-se pelo livro que escrevemos. Depois, tomei consciência de que, a par dessa alegria, também existe a noção da responsabilidade. A Marcador tem no seu catálogo escritores que admiro e, fazer parte desse catálogo, é uma honra do destino que nunca imaginei. Mas é uma sensação extraordinária, um orgulho muito grande pertencer à família da Marcador.

5) Qual o sentimento ao editar um livro pela Coleção livros RTP?

Uma enorme honra. Nos livros RTP constam nomes consagrados, como a Célia Loureiro, o Luís Corredoura, a Carla M. Soares, o Possidónio Cachapa e o Emílio Miranda, entre outros. Fazer parte dessa colecção, tão importante, é um sentimento de orgulho. Confesso que ainda hoje me custa a acreditar que um livro meu tenha tido a honra de ser publicitado nos canais RTP. Mas devo essa honra à Marcador, que acreditou no livro. É à Marcador que devo tudo.

6) Já alguma vez se deparou com pessoas a ler o seu livro? Se sim, qual a sensação?

Não, nunca me deparei. O melhor que vi foi pessoas a desfolhá-lo numa Livraria. Foi um bom momento.

7) Qual o seu autor e livro favorito, segue o seu género literário?

Acho que tenho de dividir os meus livros favoritos consoante as diferentes épocas da minha vida. Na infância, gostava da "Ilha do Tesouro", era o meu livro favorito. Depois, na adolescência, fui muito influenciado por um livro, o "Pela estrada fora", do Jack Kerouac. Marcou a alegria e a loucura desses anos. Mais tarde, adorei a trilogia do "Senhor dos Aneis", pela notável imaginação do Tolkien, pela beleza da sua escrita e pela beleza do mundo que criou. Depois, interessei-me pelos clássicos: Tolstoi, Heminghway, Steinbeck, e muitos outros. Hoje, leio essencialmente autores portugueses: José Luís Peixoto, Valter Hugo Mãe, João Tordo, etc. Nos últimos tempos, o livro de que mais gostei foi "O Filho de Mil Homens", do Valter Hugo Mãe. Mas sinto vontade de regressar aos clássicos e de ler mais poesia.  

8) Quando terminou de escrever o livro, qual o sentimento?

Senti-me aliviado por ter terminado aquele pedaço da minha vida, aquela angústia. Escrever é um acto muito solitário, que consome a nossa alma por uns tempos. Como se, durante o tempo em que o escrevemos, vivêssemos vidas paralelas. Tive mesmo momentos em que, ao falar com a família e com os amigos, ficava "ausente", e ia para aquele espaço onde a história se desenrolava. Penso que, quando estamos a escrever um livro, o isolamento é um reflexo natural.

9) Como vê o momento actual da Literatura em Portugal?

Creio que, apesar da crise, a Literatura tem vindo a ganhar adeptos em Portugal. Apercebo-me disso no dia a dia. No entanto, como a oferta é considerável, o mercado editorial começa a ser pequeno para tamanha profusão de livros, que surgem todos os dias pelas mais variadas formas. Para o cidadão comum, não é fácil separar o trigo do joio. Outro aspecto recente, é o facto de a venda dos livros estar muito centrada nas grandes superfícies comerciais. Pelo que sabemos, as grandes superfícies são, hoje em dia, os locais onde se vendem mais livros, em detrimento das Livrarias, que deveriam ser, por excelência, o lugar onde se devessem adquirir livros. E é isso que nos deve preocupar: as dificuldades das Livrarias tradicionais, que sempre foram o baluarte da nossa Literatura. Eu, por exemplo, não imagino a minha vida sem Livrarias. É lá que os livros deveriam estar. Mas compreendo as leis de mercado. É um fenómeno global.      

10) Como vê a divulgação dos bloggers literários?

Os Blogues, hoje em dia, são tão ou mais importantes do que a imprensa escrita. Mormente a imprensa seja fundamental, um jornal ou uma revista são lidos uma vez e a notícia passa à história. Nos Blogues, pelo contrário, as notícias, os artigos, as resenhas, as entrevistas, ficam disponíveis ad eternum, e podem ser consultados dias depois, semanas depois, meses depois. Por tudo isso, os Blogues de Literatura são uma extraordinária fonte de informação, uma forma de cultura muito própria. Acima de tudo, considero notável a dedicação dos Bloguers, dado que são possuidores de um altruísmo e de um dinamismo que nunca param de me surpreender.    

11) Quer deixar alguma mensagem especial aos seguidores do blog Marcas de Leitura? 


Sim, com todo o gosto. Mas, antes de mais, quero deixar um enorme bem-haja à Manuela Santos, autora deste Blogue, pela sua simpatia e pelo interesse demonstrado pelo meu livro. Às seguidoras e aos seguidores do Marcas de Leitura, quero deixar um grande abraço, por todo o amor que dedicam aos livros e aos seus autores. E talvez este trecho do meu livro: «No fundo, talvez a vida nos ensine isso, que é preciso ser-se feliz no que resta do tempo. E que essa é a nossa obrigação, a de tentarmos ser felizes neste mundo, nem que para isso tenhamos de atravessar as nossas próprias fronteiras, escolhendo a liberdade de vaguear pelo que resta dos nossos sonhos.» Por isso, acreditem nos vossos sonhos, na bondade que ainda existe nas vossas vidas. A melhor forma de chatearmos o mundo é sermos felizes.

Para já fico-me por aqui e agradeço desde já a sua disponibilidade e simpatia, foi um prazer.
Muito obrigada Rui desejo-lhe os maiores sucessos!






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