quinta-feira, 12 de março de 2015

Entrevista a Pedro Garcia Rosado, autor de uma vasta colectânea de êxitos literários


Pedro Garcia Rosado nasceu em Lisboa, em 1955. É escritor e tradutor profissional, residindo atualmente no concelho das Caldas da Rainha. 
Foi jornalista e crítico de cinema. Morte nas Trevas surge depois de Morte com Vista para o Mar e Morte na Arena, os dois primeiros títulos de uma coleção em que as personagens principais são os inspetores da Polícia Judiciária Gabriel Ponte, a sua ex-mulher Patrícia Ponte e a jornalista Filomena Coutinho. 
Desde 2004, Pedro Garcia Rosado publicou também Crimes Solitários, Ulianov e o Diabo, A Guerra de Gil (ed. Temas e Debates), O Clube de Macau (ed. Bertrand), A Cidade do Medo, Vermelho da Cor do Sangue e Triângulo (ed. Asa).

O Marcas de Leitura esteve à conversa com Pedro Garcia Rosado autor da "Trilogia As Investigações de Gabriel Ponte" "Morte com Vista para o Mar" "Morte na Arena" e "Morte nas Trevas", entre outros.

Obrigada pelas simpáticas e gentis palavras com que nos brindou e pelo tempo que nos dispensou.



1)      Fale-nos um pouco sobre si. Quem é o Pedro?

Quis ser arquitecto mas dei-me mal com a matemática e com a necessidade de dissecar rãs; pensei em ser advogado mas a minha recusa de ter de estudar muito aceite por quem devia ter-me contrariado; fui para a Faculdade de Letras em Lisboa, de onde talvez devesse ter saído professor, mas acabei por ser jornalista, mais tarde também fui crítico de cinema, a certa altura também fui consultor na área da comunicação. Agora sou tradutor profissional, a viver no campo quase à beira do mar, e autor de dez “thrillers” em dez anos, cozinheiro amador e enófilo.

 2) Como começou a sua paixão pelos livros?

Talvez pela convivência e pela falta de alternativas. Na casa do meu avô materno, onde cresci, havia livros; no colégio onde fui posto havia uma biblioteca; na empresa onde a minha mãe foi trabalhar havia uma biblioteca razoável. Fui lendo desde muito cedo. Em matéria de entretenimento, a televisão tinha uma programação desinteressante para a minha idade e não preenchia o tempo todo e, até fazer 12 anos, também não havia muitos filmes que me cativassem para ver no cinema.

 3) Quando e como surgiu o gosto pela escrita?

Tenho ideia de ter começado a escrever pequenas histórias quando já era adolescente mas não sei em que circunstâncias. Lembro-me de ter escrito muito. Eram sobretudo contos na área do fantástico e da ficção científica, que hoje, na minha memória, fazem parte de outra vida.

 4) Faz da escrita a sua profissão ou não?

Não. O que fui escrevendo, e que foi sempre publicado por editoras, nunca vendeu a ponto de eu poder pensar em viver só da escrita e apesar das referências sempre muito favoráveis.
Não penso, apesar de tudo, que seja a situação ideal para um autor de histórias no nosso país (onde é frágil o mercado livreiro) porque isso cria uma obrigatoriedade a que pode ser difícil corresponder: a de ter sempre uma nova história e melhor do que as anteriores. É uma circunstância que traz riscos para os autores que querem ter êxito comercial pela qualidade e pela criatividade e não por aparecerem na televisão

5) De onde surgem os seus personagens, imaginação ou realidade?

As minhas personagens nascem da realidade que vejo nos jornais, da imaginação e da minha própria experiência de vida. Escrevendo o mais possível com base na realidade, embora sempre no domínio da ficção, há pouca margem para protagonistas imaginados.

 6) Tem algum personagem favorito?

Ulianov, sem dúvida. O ex-oficial do KGB e ex-“spetsnaz” que veio para Portugal e que se envolveu em actividades criminosas, antes de se pôr a aplicar a sua própria justiça, entrou como personagem principal em “Ulianov e o Diabo” (2006) e depois em “Vermelho da Cor do Sangue” (2011) e “Morte nas Trevas” (2014). Agora estou a trabalhar numa história passada em Moscovo em 1989, quando Serguei Denisovich Tchekhov (o seu nome de baptismo) era um sargento idealista nas fileiras do KGB. Foi por um triz que não o matei no final de “Ulianov e o Diabo”.

 7) Já alguma vez se deparou com alguém a ler um livro seu? Se sim, como se sentiu?

Nunca aconteceu mas praticamente não utilizo transportes públicos e são raros os locais públicos que frequento. Sei, no entanto, que os meus livros têm tido alguma procura na Biblioteca Municipal de Caldas da Rainha, concelho onde moro.

 8) Qual a sensação, ao deslocar-se a uma superfície comercial, e ver os seus livros à venda?

Achei sempre interessante. Mas nunca me deslumbrou. Nem nunca vi ninguém lá perto que me parecesse permeável a uma abordagem do género: “Olhe, eu sou o autor daquele. Leve um exemplar que eu dou-lhe um autógrafo.”

 9) Quando está a escrever um livro partilha a história com alguém para se aconselhar?

Não, em regra. Mas já tenho procurado recolher informações junto de pessoas que as podem dar, com autoridade e conhecimento de causa. Foi assim no caso dos procedimentos policiais e de algumas particularidades militares (no caso de “A Guerra de Gil”).
Terminada a história, já tenho beneficiado da disponibilidade de alguns leitores-beta, que se sujeitam à experiência de lerem versões quase definitivas. E, depois, e sempre, da disponibilidade de quem, nas editoras, é responsável por acompanhar o autor na fase final do seu trabalho.

10) Qual o seu autor e livro preferido?

Tenho sempre dificuldade em enumerar um autor ou uma obra que prefiro acima de tudo o resto. Mas penso que a minha preferência absoluta (pela obra completa, por cada livro que vai publicando, pela elegância da escrita, pela crónica da vida humana que são as suas histórias e pelo conjunto de toda a sua obra) vai para a inglesa Ruth Rendell, que muito admiro.

11) Segue o estilo literário do seu autor preferido, ou adopta outro?

Não, nunca. Penso que seguir um estilo alheio é a negação da criatividade e da originalidade que cada escritor deve ter. Pode haver influências, claro, e nós nem as reconhecermos, mas fazê-lo conscientemente não. É quase como copiar ideias ou temas e, mesmo que em termos simbólicos, já anda nas fronteiras do plágio.
Além disso, no meu caso, a vantagem de ter lido muito e de traduzir (tanto ficção como não ficção) é a de contactar com muitos estilos diferentes sem nunca me deixar fixar num em particular. Não resta, portanto, um estilo que eu possa utilizar como modelo quando me ponho a escrever.
  
12) Quando acaba de escrever um livro, qual a sensação?

“Acabou”, “the end”, qualquer coisa assim.
Pode haver alguma história cuja conclusão seja mais movimentada, mais emocional, mais violenta, mais inesperada ou ter uma passagem de que gosto especialmente. Nesse caso dou-me ao luxo de me sentir especialmente satisfeito comigo próprio e empolgado com o desfecho.
De resto, é apenas a conclusão de mais um trabalho, antes de pensar no que se segue.

13) Como vê o momento actual da Literatura em Portugal?

Há factores positivos mas também negativos.
Por um lado, verifica-se que os autores portugueses começam a ganhar algum espaço nas grandes editoras que beneficiam de melhores meios para levar os livros ao público mas que, por vezes, também parecem viver um pouco estupefactas porque não sabem o que hão de fazer aos seus autores portugueses se eles não obtêm uma saída comercial imediata.
Por outro, a generalização da possibilidade de o autor pagar a sua própria edição faz aumentar o número de títulos existentes no mercado na maior parte das vezes sem qualquer tipo de controlo de qualidade. É uma situação em que qualquer gente pode pagar a edição de um livro e considerar-se escritora ou poeta. E por muita qualidade que os seus textos tenham, acabam perdidos no abismo da auto-edição. E é pena.
Por um lado, há uma maior visibilidade na internet, através dos blogues literários e das vendas “on line” e, até, da memória que vai ficando. Mas, por outro, as livrarias perdem importância e as edições esfumam-se.
É um mercado relativamente pequeno com problemas muito grandes.

14) Como vê a divulgação dos bloggers literários?

É generalizadamente positiva e cumprem uma função de que a imprensa, em geral, se demitiu. A imprensa portuguesa tem um património histórico rico de suplementos culturais e apenas literários que foram morrendo desde 1974 sem serem substituídos. E o que resta é demasiado mau, em geral.
Daí a importância dos blogues literários, que talvez precisem de ser mais exigentes ou de não ter receio de dizer que este ou aquele livro não prestam.
 
 15) Quer deixar alguma mensagem especial aos seguidores do blog Marcas de Leitura?

Leiam autores portugueses, leiam “thrillers”, leiam os meus livros. Têm o direito de não gostar.


Pedro desejo-lhe os maiores sucessos!
Bem haja :)








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