quarta-feira, 27 de maio de 2015

Entrevista a Sara João Fonseca autora de Os Espelhos de Tükor

 Sara João Fonsecaé uma psicóloga e escritora portuguesa. Frequentou Relações Internacionais na Universidade Lusíada de Lisboa, mas foi em Psicologia Clínica e da Saúde que se licenciou. Após a licenciatura, concluiu uma Pós-Graduação em Neuropsicologia de Intervenção e um Curso de Formação Profissional em Psicologia Oncológica. Escreveu para uma revista de desenvolvimento pessoal e já foi bloguista. Exerce sempre que é possível, mas é como escritora que deseja construir o seu caminho.Com muitas histórias imaginadas e algumas em gestação, “Os Espelhos de Tükor” é a sua primeira obra publicada.


Estivemos à conversa com Sara João Fonseca de uma simpatia extrema.
Obrigada pelas simpáticas e gentis palavras com que nos brindou e pelo tempo que nos dispensou.


1)      Sara fale-nos um pouco sobre si?
Nasci numa tarde quente do mês de Maio na luminosa cidade de Lisboa. Foi no dia 29 que abri, pela primeira vez, os meus olhos e não mais parei de observar, extasiada, tudo o que me rodeava. A observação incessante despertou, em mim, o sentido da curiosidade, abrindo-me as janelas da imaginação e da criatividade. E assim fui uma criança verdadeiramente imersa na infância, num tempo em que tudo acontecia pela primeira vez e tudo tinha as interrogações dos porquês. Ainda hoje exclamo e interrogo com o mesmo estímulo insaciável desse período clássico infantil. Fui uma criança feliz, sobretudo porque brinquei muito numa época em que era possível não sufocar com trabalhos para casa e actividades extra curriculares. Gostei muito da escola na fase pré-escolar e no 1º ciclo, porque tudo era novidade, ensinava-se a ver através do simples olhar e havia espaço para o livre expressar. Mas perdi quase todo o interesse nos restantes anos escolares quando os professores passaram a transmitir expositivamente a informação, enquanto os alunos a recebiam de uma forma passiva. Não se fomentava o espírito crítico, a resolução de problemas, a colaboração, a adaptabilidade, a comunicação, a criatividade. O sistema de educação uniformizado resumia-se, apenas, a uma colecção de actividades pré-formatadas sem qualquer interligação nas temáticas leccionadas. Por isso, a aprendizagem já não era divertida. Por inerência distraída, passei muitas aulas com o olhar aventurado noutra direcção, com a “cabeça no ar”, a sentir e a imaginar, a produzir outras letras, outros números, outros lugares e outras histórias, como se tivesse um sótão de livros e brinquedos na cabeça. E porque sempre tive uma vida interior muito intensa que reage ao mínimo tremor de afecto e à máxima erupção do coração, porque vivo com ânsia de vida, porque tenho um pensamento livre, porque perspectivo aquilo que sobrevém alheio à minha vontade, porque questiono até o inquestionável, cresci a escrever. Entretanto, formei-me em Psicologia, porque contemplar a alma humana é algo que me exulta por dentro. Grandes mestres da literatura, da música, da pintura, da escultura, tentaram exprimi-la com extraordinária profundidade. Talvez me falte o génio, mas sobra-me a sensibilidade para a escrever sempre que a vejo à transparência.
E penso que assim já dei um cheirinho de mim… até rimei!
(risos)

2)      Quando começou a sua paixão pelos livros e o gosto pela escrita?
Felizmente, eu nasci e cresci numa casa em que havia muitos livros. Os meus pais cultivavam o hábito da leitura pelo gosto e pela aquisição de conhecimento. Quando comecei a aprender as letras, a formar palavras, a construir frases e a compreender pequenos textos, chegaram até mim os primeiros livros infantis que faziam as minhas delícias. Mais tarde, quando eu já era capaz de compreender histórias um pouco mais complexas, a minha Mãe ofereceu-me a Colecção Azul do Círculo de Leitores que incluía os clássicos da literatura juvenil, entre eles os livros de autores consagrados como a Condessa de Ségur, Louisa MayAlcott, Charles Dickens, Mark Twain… todos estes livros, infantis e juvenis, continuam comigo, vivem comigo (uns em prateleiras, outros em caixas), porque todos eles fazem parte da minha memória, da minha vida e todos eles constituem os bens mais valiosos da minha herança literária. E assim fui crescendo, enquanto também crescia a paixão que tenho pelos livros, o gosto que tenho pela escrita. Em todas as histórias que li e reli, um desejo nasceu e foi crescendo como o pé de feijão do João que chegou até ao céu. Desejei criar as minhas próprias histórias, aquelas que, um dia, mudassem algo na vida de outras crianças, de outras pessoas. Enquanto li, desejei escrever. E foi exactamente isso que fiz – escrevi. Escrevi e escrevo, porque se não o fizesse, não seria eu mesma. A escrita traz-me paz e plenitude, permite-me transcender o tempo e o espaço, ensina-me a escutar as vozes sem identidade que existem dentro de mim e a aspirar ao silêncio que tanto retempera os meus dias.Esse é, realmente, o meu mundo, o meu planeta, o meu microcosmo, a minha dimensão galáctica, o meu universo.

3) “Os Espelhos de Tükor” é um livro para crianças, mas também poderá ser para adultos, verdade?
Sim, é verdade. O livro - Os Espelhos de Tükor - foi escrito para crianças e jovens dos 8 aos 12 anos. Nunca fiz um plano prévio da história. Apenas considerei a mensagem importante que queria transmitir. No início, pensei que tinha algum poder sobre a história, mas à medida que ia escrevendo, percebi que era a história que tinha um certo poder sobre mim. E, deste modo, fui deixando que ela tomasse conta de quase tudo. Deixei-me levar pelo improviso, pela surpresa e pelas múltiplas possibilidades que uma história pode conter (afinal, é assim que as crianças sentem quando alguém lhes conta, aconchegadamente, uma história!). E chegando ao fim percebi que, afinal, ela também continha conceitos pedagógicos essenciais para os adultos, valores fundamentais que teriam a possibilidade de relembrar, os mais crescidos, sobre o que é verdadeiramente importante na vida. Surpreendente e interessante, foi compreender que, de facto, todos os adultos que liam o livro e davam a sua opinião reivindicavam a história para eles. Das duas, uma: ou eu errei no público-alvo definido, ou superei todas as expectativas dos leitores. Ora, considerando que, até ao momento, todas as críticas têm sido muito boas - sejam de crianças, jovens, pais, tios, avós - penso que a segunda opção é a que estará mais correcta. (risos)

4) Quando terminou de escrever o livro, qual o sentimento?
Primeiro tive uma reacção instintiva e emocional – chorei! Depois senti que tinha realizado uma obra com sentido de missão e propósito. Agradeci humildemente a Deus pelo dom que me ofereceu, pela inspiração que me deu, ciente de que o meu dever será sempre trabalhar com perseverança e honestidade, honrando assim as bênçãos que me foram concedidas. E depois destas primeiras emoções tão fortes, senti uma felicidade tranquila de quem chegou a bom porto.

5) Qual a sensação ao editar o livro pela Chiado Editora?
É uma sensação de identificação e complementaridade. A Chiado Editora foi a primeira e única editora para onde enviei o original d’ Os Espelhos de Tükor. Decorridos dez dias, recebi uma proposta de edição que posteriormente se converteu em contrato. A Chiado Editora tem uma equipa jovem, talentosa, muito profissional que desde sempre me acolheu, me apoiou e me tratou com simpatia, gentileza e amabilidade. Tenho o privilégio de trabalhar com esta equipa que me acompanha permanentemente numa relação mútua de respeito e confiança. A Chiado Editora é uma família, uma casa cheia de livros, de sonhos, de méritos e é aqui que, com gratidão, eu quero estar.

6) Qual o seu autor e livro favorito? Segue o seu género literário?
Ditosamente, eu tenho muitos livros e autores como referência na área da literatura. A minha lista é extensa e ecléctica. No topo estão alguns dos maravilhosos clássicos da literatura portuguesa e estrangeira. Depois considero alguns autores contemporâneos (portugueses e estrangeiros) que escrevem livros extraordinários no género de romance ficcionado, romance histórico e literatura de viagem. O género infanto-juvenil representa as minhas raízes e o que realmente impulsionou os meus primeiros passos no sublime universo da escrita. Mas não é o “meu” género literário. Tenho outra história juvenil em gestação que deverá nascer em breve. Depois… depois talvez me aventure em águas mais profundas. Seria demasiado reducionista, para mim, permanecer num só género quando eu desejo intimamente navegar noutros mares e descobrir outros mundos literários.

7) Já se deparou com pessoas a ler o seu livro? Se sim, qual a sensação?
Sim, muitas vezes. No próprio dia do lançamento convidei uma menina (ex-paciente minha), de dez anos, para ler um trecho significativo da história. E como tenho realizado algumas sessões de apresentação do livro nas escolas, esta circunstância acontece naturalmente entre alunos e professores. A sensação é muito gratificante, porque naquele preciso momento eu escuto a minha voz interior na voz audível de outras pessoas, como se aquilo que eu escrevi em absoluto silêncio, se repercutisse agora num eco infindável.

8) Qual a sensação ao deslocar-se a uma superfície comercial e ver o seu livro à venda?
É sempre surpreendente e paradoxal. No fundo é uma parte de mim que está ali exposta, à mercê das frequências, vibrações, sintonias e ressonâncias dos leitores. Eu que, desde pequena, sempre escrevi em modo reservado, intimista e solitário, vejo agora os meus escritos submetidos aos ecos do mundo. Por outro lado, penso que aquilo que um escritor deseja, acima de tudo, é que as pessoas leiam os seus livros e que, em algum instante de leitura (ou em todos!) se encontrem, se revejam, se reconheçam naquela mensagem. Sinceramente, esta é a minha maior volição.

9) Como vê o momento actual da Literatura em Portugal?
Em crescendo… Actualmente, os portugueses lêem muitos tweets, posts, jornais digitais, mas curiosamente dedicam-se pouco à leitura de livros digitais (e-books). Em Portugal ainda há poucas pessoas a ler muitos livros por ano e muitas há que não lêem sequer um livro por mês. Ainda assim, hoje lê-se mais, existem mais pessoas a ler por prazer, por apelos profissionais e há um aumento do reconhecimento público sobre a importância que a leitura tem para o desenvolvimento pessoal de cada um e para a evolução da própria sociedade.

10) Como vê a divulgação dos bloggers literários?
O papel dos bloggers literários credíveis, que desenvolvem um trabalho sério e actualizado, é muito relevante, porque representa uma grande e consistente fonte de informação na área da literatura. Nomeadamente têm vindo a aproximar uma nova geração de escritores dos arrogados leitores, quebrando assim as barreiras do preconceito e dando espaço à curiosidade e à aceitação. Nesse sentido, estes formadores de opinião têm sido um dos maiores veículos de marketing digital, alcançando um público diferenciado que procura bons livros e novos autores, sendo a qualidade das suas resenhas, o principal motor de indução desta dinâmica.

11) Quer deixar alguma mensagem especial aos seguidores do Blog Marcas de Leitura?

É com muito gosto que deixo uma mensagem especial, uma mensagem que, meditando, escrevi há algum tempo e transformei na insígnia da minha vida de escritora: “um LIVRO é um verdadeiro organismo vivo que nasce, respira, pulsa, pensa, sente, cresce, amadurece, vive... mas nunca, nunca morre”. A todos os seguidores do Blog Marcas de Leitura, a todos os leitores desejo uma existência feliz alicerçada em bons livros, quiçá, perpetuando na sua memória afectiva Os Espelhos de Tükor.

Para já fico-me por aqui e agradeço desde já a sua disponibilidade e simpatia, foi um prazer.
Muito obrigada Sara desejo-lhe os maiores sucessos!



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